you know how I feel

you know how I feel


Eu procuro sinais de vida no meio desta escrita,

que mais me parece um entulho de palavras perdidas,

reviro os parágrafos, procuro o que está atrás de cada linha,

olho as fotografias que as decoram,

como se pudesse assim dar-lhes algum sentido,

queimo rascunhos. recomeço tudo de novo.

quem sou eu?

parece que continuo no mesmo lugar,

com estas frases desgastadas, repetidas, em tantas páginas vazias, e

a minha solidão ainda é sagrada, indecifrável.

talvez você também sinta isso........

esta vida mortal cheia de espaços vazios,

o medo que ecoa pelos ouvidos quando pensamos sobre o tempo que escoa em cada canto.

quando os dias desaguam no coração


eu me sinto exausta de correr com o coração à frente dos próprios passos.
me sinto esquecida à margem deste poema, e da vida.
carrego por dentro dos olhos o céu inteiro,
e é sempre rente à promessa de uma palavra de amor que encontro algum consolo,
mas dessas coisas apenas os meus olhos falam.

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Um dia. Acreditar. Abandonar o vazio.
A luz a trespassar-me de uma vez por todas.
Não aguentar esta ternura desamparada.
A sombra a rondar uma pureza forçada.
Recorrer à máscara.
Ser amarga por instantes. Gritar. Não chorar.
Deixar cair o sorriso aos pés.
Manchar-me de desejo.
Não adivinhar o melhor nos outros. Desiludir-me.
Desiludir-me mais. Deixar de acreditar.
Sentir o peso das palavras fechadas. Ouvir-me.
Esquecer fronteiras.
Buscar a liberdade.
Não suportar o brilho.
Procurar os cantos escuros da alma. Mudar.
Omitir a transparência.Ser igual.
Vestir-me de várias cores – atirar o preto para longe.
A indiferença a falar por mim: já não sou sensível.
Saber dizer adeus – até logo – de costas voltadas.
Ignorar sinais. Pairar nas conversas.
Aquecer o coração entre duas pedras.
Desaprender a melancolia. Estranhar a poesia.
Não traduzir em acordes tristes o que não existe. Facilitar.
Não viver na memória. Não ler nas entrelinhas.
Renunciar a este suspiro que alivia o peito.
Chorar lágrimas de impossibilidade. Despedaçar.
Trocar a sinceridade por uma armadura de ferro.
Deixar de escrever.Ser impiedosa.
O carinho a morar noutro corpo que não este.
Pedir. Não sentir. Abrir mão. Esquecer.
Não respirar momentos bonitos. Conseguir. Ser salva.
Morrer num poema à beira-rio.
Nascer diferente.Mais fria. Distante. Alheada de mim.
Afogar-me no preto e branco daquilo que é frívolo.
Encontrar caminhos. Um dia. Não acreditar.
Abandonar-me a mim própria.
Desprezar abraços.Remeter-me ao silêncio.
Conviver de perto com os muros altos.
Meter medo ao medo.
Envolver-me. Não fugir.
Transformar-me. Acordar noutra pele.
Ser o calor nos olhos de alguém. Fingir.
Não viver acorrentada num filme triste. Um dia. Talvez.
Dizem que ninguém gosta de lugares magoados.
Dizem. E eu calo-me.

A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção de se perderem
que a sua perda não é uma calamidade.
Perder qualquer coisa todos os dias.
Aceitar a agitação de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava viajar.
Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.
Perdi o relógio da minha mãe.
E olha! a última, ou a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
Perdi duas cidades encantadoras:
e, mais vastos ainda, reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.
Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto que amo) não foi diferente disso.
É evidente que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.

carta de amor


Eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas poesias
e dizer que gosto dos teus olhos e beijar as tuas mãos
e ir tomar sorvete e não me importar se você não gosta de chuva
e ir encontrar-me contigo pelas ruas e falar sobre o dia
e passar as minhas mãos nos teus cabelos e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia
e te xingar quando não me ouve e ver filmes ótimos, ver filmes horríveis
e queixar-me das músicas do rádio e tirar fotografias de você de todos os ângulos
e te ver dormir e levantar-me para te ir buscar café e falar-te sobre o programa da televisão que vi na noite anterior e ir contigo ao oftalmologista e não rir das tuas piadas
e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um pouco mais e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do seu jeito de andar dos teus lábios do teu pescoço do teu sorriso sentar-me nos degraus de minha casa e fumar até o teu vizinho chegar a casa
e preocupar-me quando estás atrasado e ficar surpreendida quando chegar cedo
e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar toda cansada e pedir desculpas quando estou errada e ficar feliz quando me desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustada quando estás zangado e um dos teus olhos vermelho e o outro marron e o teu cabelo espetado e o teu rosto e dizer-te que és lindo e abraçar-te quando estás ansioso e amparar-te quando estás magoado e ficar sentindo o teu cheiro e choramingar quando não me entender e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando você sorrir pra mim e desintegrar-me quando me
e contar-te sobre as coisas encantadas e escrever-te poemas e pensar porque é que não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que não existe, e atrasar-te na cama quando tens de ir ver-me livre das aranhas na parede e comprar-te presentes e te contar desde a primeira vez que te vi de como fiquei a vaguear pela cidade pensando que ela está vazia e querer aquilo que queres e achar que estou a perder mas saber que estou segura contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesta porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrada a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e falar e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por você.


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