Não sei como vieste, mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos em abraço
cheias de doçura,
os olhos pousados
nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra onde corpos
e corpos se repetem, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura, sentada,
olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

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