you know how I feel

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É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras
Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.
Eugénio de Andrade
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Eu já não sou quem era. Anunciei Setembro como quem se entristece pelas folhas caídas e pela chuva, pela infância perdida cedo demais e pelos lugares distantes sempre difíceis de alcançar. Disse que Setembro era uma ferida aberta. E esqueci-me de viver entretanto. Mas nada disso importa agora. Pedi secretamente um alvoroço: algum sinal que me fizesse mudar de rumo. Um desejo traiçoeiro. Eu já não sou quem era. O motim aproximou-se – varreu-me os pés – virou-me do avesso. Revoltou-me. Agora sou um lugar enevoado que corre desenfreado - sem destino. Transformei-me numa prece de mãos atadas. Desconheço o caminho que tenho pela frente e insisto em rasgar apertos: sou um sorriso cauteloso que vigia o tempo e uma valentia qualquer que me é estranha. Levo tudo comigo e de boa vontade. Sou um abrigo de inquietações. Estou disposta em ramo - os braços abertos - pronta para estender os medos numa rodilha e conhecê-los de cor pelo cheiro. Na passagem lenta de um fim de tarde – o chão ruiu - e eu precipitei-me de imediato na escuridão. E nisto, foi um corpo que caiu sem aviso durante a vida. E ninguém nos previne deste súbito abandono. Suponho-me sentada, a entrelaçar os nós dos dedos nessas mãos tão frias – e o regresso à vida lá fora reflete-se algures nesses olhos já de si agitados. Pedaço a pedaço, chegam as horas claras. Talvez seja esta a melhor maneira de silenciar o choro para além da dor. Só uma certeza: eu já não sou quem era. Vai entrando pela janela um vento morno, eu sei. Prevê-se que assim acalme a pele e traga pequenas ondas de esperança. É urgente essa luz no rosto. E o amor nasce-me por dentro em direção a ti. Eu já não sou quem era. E - por isso mesmo - agora posso acreditar: reinventarei ainda hoje os humildes milagres para minha alma, para a falta de amigos, a minha falta de dinheiro, de saída, de solução, para a falta de tudo, algum milagre. algum milagre...
e ainda que eu não seja mais a mesma, é a ti que amo, e sempre amarei. a nossa casa, o nosso cheiro, nossos corpos abraçados e a sua falta quando está trabalhando, a sua saudade, a nossa ansiedade, é urgente o que sinto por você, e nunca vou te deixar.

3 comentários:

***SONHOS*** disse...

lindo isso que escreveu...
do fundo da alma...
desculpe não estar escrevendo
para você,
mas é que não tem nada
de novo acontecendo na minha vida...
estou morrendo de tédio...
mas isso vai passar...
bjos

Anônimo disse...

Passei para desejar um bom fim-de-semana.

Dualidades JP

Anônimo disse...

Linda sua foto deitada na cama!!!! Adorei e o texto tb.



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