poema difícil de amor

Separam-me de você, mares e terras, ventos e luas,
Diante da mesa do juiz supremo dos amantes:
eu imploro...
Para que o juíz possa me julgar,
conheça primeiro o meu amor desonesto e infinito
feito de sonhos e noites
eu e meus espinhos nas pálpebras
derramando lágrimas azuis
onde as ruas são becos sem saída
e onde todas as minhas chances são estreitíssimas e oscilantes.
conheça antes este número-tempo que me aprisiona
este número-espaço que nasci e cresci a querer
um lábio alheio que me beijasse canções.
assim como este precipício aberto,
que nada me revela o que eu já não saiba.
Porque este contágio de precipícios
que identifico em suas canções
é uma comunicação trêmula de um pássaro sem asas, que sou.
Deito-me cedo contigo, no meu sono
e minha vida parece ser somente esta espera
esta condenação perpétua,
esta invenção extensa de mim
que é você!
não aguento mais ser feliz, apenas quando estou submersa em sonhos.
a minha vida coalhou
e tudo será assim enquanto houver os espaços que nos distancia e os desejos que não acabam.
Silvia 2008