Uma fotografia seria isto:
procuro corar mas não há cor que me assalte.
Sou um nome sussurrado entre dentes à espera de
um regresso imprevisto às palavras felizes.
Um rosto colado a tantas manhãs antecipadas.
Última palavra antes da próxima:
azul. Inventar um final para esta história,
em passo lento: tu sem mim e eu sem nada.
O sol é um incêndio a queimar-me a pele,
um castigo maior por não saber esquecer-te.
Espero o primeiro desconhecido que
se cruze comigo e é em ti que penso.
Procuro um espelho no deserto da tua ausência,
uma promessa enganosa que me faça sorrir ao longe.
Os meus olhos abertos são fraquezas que trago comigo.
Aparições tuas. Não te afastes ainda,
tenho muito para te contar.
Tudo parece estar certo:
a memória aponta para ti,
o teu rosto rodopia nos sorrisos alheios.
Tenho medo de vir a ter medo do escuro.
Bomba relógio apontada ao coração:
ceguei de paixão.
É uma lágrima diferente, esta que geme baixinho.
Agora é a solidão a descer-me cara abaixo,
a fragilidade de um azul que já não aguento.
A inevitabilidade de desaparecer no mar.
Eu choro sal e espero a cura.
Ponho o ouvido de escuta ao mundo e caminho nas pontas dos pés.
Quanto mais intensa a vida mais inacessível o silêncio.
Ando por aí. Perdida num azul que não sei descrever.
Porque me construí outra vez. E outra e outra.
Disfarcei as cicatrizes e continuei o caminho para a minha perdição.
Estou aqui, clandestina e calada, num abrigo sem chão.
Um constante sonhar no que só dói por dentro
sem deixar transparecer que também sei que foges.
Circuito fechado de memórias e, ainda assim, feridas abertas.
Inalcançáveis. Até podia ser qualquer coisa que não eu.
Mas sou uma sonhadora numa solidão de livros fechados.
Trago sempre comigo os não-saber-que-dizer.
E este azul não pertence a tempo nenhum.
Na alma crescem lugares vazios
e sentem-se muitos buracos no vento.
Lá ao longe já não vejo nada, só uma fantasia de tolos.
Vou pintar esta ideia.
Fugir ao som de uma música qualquer – a mais triste –
para dentro de um sonho bonito: um assobio de tempestade roubada.
Quero ser magia numa alma que semeia amor nas outras.
Sim, uma fotografia agora seria isto.
(escrito por Vanessa) e reflete tudo que sinto e sou.
5 comentários:
adorei isto...
tem tanta matéria viva
condensada em versos
colada a face do amor
palavra por palavra
e elas em dança
cria formas
e captado o segundo disto
creio
em minha humilde ignorância
ser o que se chama fotografia
ou foto-vida...
=]
Belo texto da Vanessa.
Um dia esta imagem ganha core o sol dará sustentação aos ossos e sensação de felicidade a esta fotografia. quem sabe....
Bom fds Bijoooooos
Ray
Um óptimo fim-de-semana.
Dualidades JP
Muito legal Silvia
A fotografia ficou linda nesta forma!
E aew como vc tah??
BeijO grande!
Ser magia numa alma que semeia amor...É um nobre e belo propósito.
Beijos pra ti!
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