Sempre sinto medo quando começo a escrever.
sai sangue, suor, risos, espasmos.
tenho mêdo de me perder nesta névoa de tinta permanente presa aos meus dedos,
como se fosse um sinal indelegável de doença incurável.
Tenho medo das feridas que alastram pelo interior do meu corpo,
invisíveis, incuráveis, como os textos e gritos que carrego presos na garganta.
cada escrita é uma ferida com crosta grossa e vermelha
que precisa respirar em altas montanhas pra aliviar o que não se estanca.
O que ainda não publiquei guardei numa gaveta,
bem protegidos do pó, dos cheiros, dos ruídos, dos olhos humanos.
nunca consegui escrever com continuidade, a vida não deixou.
sou caótica, me perco em peregrinações, travessias, transmutações, paixões, fugas.
A minha vida sempre foi a de uma fugitiva,
fujo de mim mesma, quase sempre, e nestas fugas
conheci desertos, serpentes, constelações, silêncio, delírios,
mas sobretudo o Medo....
conheci o medo, quando numa folha de papel eu revelei a minha melancolia,
quando me deparei com o raio X da minha alma, preso numa frase pequena.
então precisei costurar com agulha de palavras cada órgão,
para que a dor não se espalhasse pelo corpo todo.
e na falta que me faz uma palavra, a que faltou, a que sempre me falta, percebi...
eu conheci o medo de me conhecer.
Tenho medo de morrer de mim...
é que ando muito esquecida, indiferente, cavando fundo as sombras mais frias,
não quero acabar assim encurralada e assustada.
Pelo amor de deus, acabem com estas minhas partes gaguejadas,
eu sinto tantas coisas e não sei mais exorcizá-las...
Talvez seja culpa deste coração de sangue, coração solar.
ou seria um coração nuclear??? .....um coração nuclear com medo.
Silvia 2008
João Cabral de Melo Neto
2 comentários:
Escrever sempre dói.
É como parir um filho...
...à nossa imagem e semelhança.
Mas você não escreve apenas para inquietar sua alma. Também escreve para acalmar a nossa. Nós... do lado de cá. Seus leitores. "Tú és responsável, etc e tal..."
Bjos.
Elga
Ah, Sílvia,
Entregue-se às palavras, absorve-as e relaxe, permita-se se dar ao prazer que elas proporcionam.
Beijo, querida!
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